sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Apresentação

Acabo de ser apresentada a uma família da maneira mais inesperada que imaginar se possa: «esta senhora é filha do melhor médico que Évora já teve».

Fico sempre um pouco comprometida com este tipo de apresentações, no que diz respeito à minha pessoa, pois do que gosto mesmo é de me movimentar e “meter o nariz” onde me apetece passando incógnita no meio da “multidão”.

Quanto ao elogio ao meu Pai, por saber que é sincero vindo de quem veio, agradeço-o profundamente. É algo que me apraz imenso saber que os outros, por quem ele tantas vezes nos deixou sentados à mesa, até em dias de nossos aniversários, e saiu porta-fora para ir acudir a quem de seus conhecimentos precisava, lhe reconhecem o valor e o que ele fez por eles.

Talvez mesmo, que muitos dos habitantes da cidade de Évora e seus arredores, hoje, já cá não estivessem, ou tivessem desaparecido mais cedo, se ele – meu Pai – não tivesse interrompido as suas refeições e o seu sono para ir “acudir aos aflitos”. Sempre se privou do seu bem-estar e a família da sua companhia, em prol dos outros.

Ao ouvir um elogio destes, fico satisfeita e orgulhosa, pois reconheço que ainda há alguém que se lembra dele, depois de tanto tempo passado, embora, depois da mudança de regime em Portugal, muitos, dos que muito lhe deviam, o tivessem tratado como muita gente, hoje, acha, que é indigno tratar um animal de quatro patas.

Tanto ele, como muitos dos seus colegas, e, recuando um pouco mais, ao tempo do meu Avô, seu Pai, formaram um conjunto de médicos que tudo deram à cidade de Évora no campo da medicina recebendo nada em troca. Nem um reconhecimento espontâneo por parte da edilidade da cidade.

Se o meu Pai tem hoje uma rua, escondidinha, com o seu nome, não sei a quem o deve.

Quero dizer, penso que foi ao meu Pai que a rua foi dedicada, pois que não mencionaram por debaixo do nome nem a profissão, nem a data de nascimento e da morte como é de costume fazer-se. Começar o nome da rua por “Dr.” tanto pode ser um economista, um advogado, enfim, qualquer licenciado. Com “Dr.” atrás do nome há hoje muita gente, uns merecendo-o, outros nem tanto, talvez.

 Mas se ainda houver gente nesta cidade que tenha estado tuberculoso até mais ou menos 1975, e se tenha curado, pode dizer, com certeza, quem o tratou. Pois tanto o meu Avô como o meu Pai foram incansáveis na luta pela erradicação dessa doença em Évora e arredores.

Mas aquilo a que o meu Pai me habituou muito mal e a todos os que dele se socorriam, foi à certeza com que fazia o diagnóstico duma doença. Os meios de diagnóstico, hoje-em-dia tanto em voga, para ele, só serviam para confirmar que o tratamento que tinha aplicado ao doente era o correcto. E essa certeza e a paz de espírito de que éramos possuídos por confiar no que ele dizia era meio-caminho-andado para a cura.

Mas, permita-me a pessoa que fez a apresentação da minha pessoa à sua família, que me alongue um pouco mais na minha descrição sobre o meu Pai.

Pois que, embora eu, por vezes, considere que ele foi um Pai de certo modo ausente devido à sua profissão, por nunca se ter negado a ajudar fosse quem fosse, rico ou pobre, quer pagasse quer não pagasse, ainda teve tempo suficiente para transmitir valores morais e materiais aos filhos, a todos, e também as técnicas da profissão aos dois, que seguiram as suas pisadas. E a programação das suas condutas é a mesma, seja em que aspecto for, especialmente no técnico, pois quando eles dizem que o doente tem isto ou aquilo, é mesmo isso ou aquilo que tem. Os meios complementares de diagnóstico são só os comprovativos do que já na cabeça deles está preconizado.

Não precisam os doentes, assim, de andar aos “pulos” de Herodes para Pilatos, à procura da causa da doença. Se é que muitos deles têm tempo de a conhecer!....

E por aqui me fico, pois não quero alongar-me mais. Penso que, resumidamente, já consegui agradecer a apresentação de que fui alvo hoje.

Mais uma vez um muito obrigado sincero à pessoa em causa.

Rosa dos Ventos
14-10-2011

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