terça-feira, 23 de agosto de 2011


ATRAVÉS DAS GRADES



Nem tudo o que parece é. Contudo, há imagens que impressionam.
Ver pessoas atrás de grades transmite sempre uma posição de subalternidade, humilhante, embora nem todos sejam “prisioneiros” pelos mesmos motivos.
A primeira ideia que nos vem à cabeça quando se fala de grades são as grades das cadeias/prisões: é triste que estas situações tenham que existir.
Depois, temos as grades nas janelas das casas, especialmente em janelas de rés-do-chão, que eram muito características em casas antigas, nas cidades, vilas e aldeias, e muitas eram mesmo magníficas obras de artesanato, dos grandes artistas populares.
Contudo a sua existência significava “protecção”  contra “os amigos do alheio” . Mas… coisa engraçada! muitas delas colocadas em habitações situadas em povoações onde até o costume era deixar-se a chave na porta, a porta aberta ou o postigo aberto para facilitar a  entrada em casa dos próprios donos,  uma vez  que a confiança  nos vizinhos era total. Nos vizinhos e não só, pois ninguém entrava sem bater à porta ou perguntar:
-“está alguém?”  ou chamar por: - “oh da casa!” .
Poderemos então pensar que nestas zonas as grades nas janelas eram puro ornamento? ! Talvez sim, talvez não!...
Hoje vemos a maioria das casas com as janelas gradeadas no piso térreo, mas essas grades já nada têm de belo: são direitas e só para protecção. Há até quem já esteja a meter grades em janelas do primeiro piso andar e… imaginem, protecções metálicas pelo lado de dentro dos vidros das janelas.
Não há dúvida de que agora significa mesmo protecção. É horrível, não só o aspecto das casas transformadas em “prisões” dos seus próprios habitantes como, se pensarmos em termos de salvamento de pessoas em caso de fogo, por exemplo, tudo isso vai dificultar a acção de bombeiros. Mas também não há dúvida de que os tempos que estamos a atravessar levam as pessoas a “proteger-se” o mais possível do “inimigo exterior”, esquecendo-se totalmente de que podem ficar reféns dessa protecção que de certa maneira tem o seu fundamento para existir.
Além destas grades que são as mais comuns a toda a gente, não posso deixar de pensar nas “vergonhosas” grades dos campos de concentração durante a segunda guerra mundial, em pleno século XX e que se vêem nas fotografias dessa época: pessoas e crianças famintas, autênticos esqueletos ambulantes, agarradas às grades com expressões suplicantes para que alguém as libertasse daquele maldito inferno em que se encontravam sem culpa formada. Eram grades que as separavam de um mundo livre, de um mundo em que toda a gente aspira viver e afinal… parece não conseguir.
E parece não conseguir, porque como já descrevi acima as grades continuam a existir e tornaram-se “moda” pois servem para separar grupos de pessoas. Além das usadas pelos órgãos de segurança pública para separar o povo dos poderosos, políticos ou outros, nos percursos por onde estes passam em ocasiões de cerimónias ou para reuniões importantes, as mais aberrantes que estamos condenados a ver são as que dividem os participantes na chamada “festa anual do Pontal” do PSD do povo que não teve lugar à mesa, mas que se calhar votou neles, e que se aglomera à volta dessas “altas” grades guarnecidas de redes, para ouvir o discurso do “chefe”.
São fotografias também para memória futura, bastante degradantes, embora os prisioneiros sejam - imagine-se!- os que se sentam à mesa à volta do “chefe”.
Chego à conclusão de que as grades não só símbolo de autoritarismo, despotismo, ditaduras, delimitações efectivas da liberdade, mas igualmente objectos que também servem a DEMOCRACIA.
Mas Democracia não significa o poder do povo? Então porque é que esse povo fica sempre delimitado por grades? As grades, afinal, significam liberdade?
Esquecia-me, mas não costumo ter a memória “curta” – por enquanto, enquanto estiver no meu juízo perfeito – é que realmente na última década (esta, em especial) as palavras passaram a significar o seu contrário.


Rosa dos Ventos

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