quarta-feira, 9 de março de 2011

Que futuro para os jovens deste País???
Estamos num beco sem saída!
Todos os dias se ouve nas notícias que a dívida de Portugal ao estrangeiro é cada vez maior; que a nossa independência política “já era”; que quem dá ordens agora é a Srª. Merkel/Alemanha, etc., etc.

Ora, de acordo com a nossa Constituição pós-25 de Abril de 1974, todos têm direito:
·        a uma  vida digna
·        a habitação condigna,
·        a educação/instrução
·        a trabalho,
·        a salário digno,
·        à saúde,
·        a reforma,
·        a protecção na velhice.

E quem tem de ser o garante destes nossos direitos é o Estado, constituído pelos governantes, saídos dos partidos que compõem a Assembleia da República e que são eleitos pelo povo.

Mas para resolver o problema dessa dívida, contraída pelo governo, face à má aplicação dos dinheiros públicos, a que o povo é completamente alheio, o mesmo governo achou por bem, à boa maneira portuguesa, pagarem-na os não culpados, os mais fracos, em vez de ir à raiz do mal.
Para ajudar a este “desastre” juntou-se o descalabro económico-financeiro resultante da globalização que veio afectar os países “descuidados” como Portugal.

Como consequência disto, começámos a ver:
·   as fábricas a fechar porque o “Capital” foi procurar melhores e maiores lucros fáceis nos países que não têm os direitos que Portugal tem consignados na Constituição para protecção dos seus cidadãos; 
·   trabalhadores desempregados, sujeitos ao subsídio de desemprego, para o qual descontaram, mas que não lhes garante condições idênticas às de um salário condigno;
·   famílias sem hipóteses de satisfazerem os seus compromissos para com a Banca perante a qual se empenharam na busca de uma “vidinha melhor “– que a todos é devida!!;
·   o crescendo inusitado dos pedidos de passagem à reforma quer na Função Pública – que parece ser o inimigo número um do governo – quer no privado, que foram sobrecarregar o erário público, embora sejam fruto dos descontos efectuados pelos próprios  beneficiários e os quais deveriam estar a salvo de possíveis desvios;
·   os cortes nos subsídios aos estudantes de todos os graus de ensino e nos serviços sociais de apoio a crianças e a idosos;
·   “cambalhotas” no Serviço Nacional de Saúde (SNS) no intuito de poupar dinheiro, retirando direitos ao povo, e provocando maior número de mortes face às deficiências na prestação dos cuidados de saúde;
·   os cortes nos subsídios aos preços dos medicamentos;
·   o aumento do preço dos combustíveis – a que infelizmente as convulsões internacionais estão a ajudar “á festa” – e que influencia o aumento de tudo aquilo de que precisamos para viver, incluindo a alimentação;
·   etc., etc.

Primeiros resultados:
·   à pressa se tiveram de formar grupos de voluntários com a colaboração das igrejas e daqueles que ainda podem alguma coisa – mas cá os de baixo, porque quem pode mesmo só procura lucros cada vez maiores – para começar a dar, pelo menos, uma refeição por dia, a famílias que já passam fome;
·   os jovens não vêem futuro senão nalguns – muito poucos - trabalhitos muito mal pagos e a recibos verdes, por pouco tempo, sem regalias, nem sequer para uma futura reforma; gastaram dinheiro e tempo a estudar e agora têm um papel na mão que diz que são licenciados, mestres ou doutores, mas trabalho? nada; talvez no estrangeiro, mas só para alguns…porque lá fora há problemas idênticos;

Resultados gravosos:

Muita da chamada “gente bem” e também aqueles de quem fala José Cutileiro no seu livro/tese de doutoramento intitulado “Ricos e Pobres no Alentejo”, que depois do 25 de Abril conseguiram melhorar as suas condições de vida e cujos filhos e netos, hoje, já muitos, estavam inseridos na chamada classe média baixa ou classe média com alguns à-vontades económicos, estão a ver-se na necessidade de pedir ajuda, especialmente se têm filhos para alimentar. E será que são capazes de ir dar a cara para pedir essa ajuda? Há quem “por portas e travessas” o faça por ter dependentes que dela necessitam absolutamente. Mas muitos há que não são capazes e que, se não têm crianças e jovens deles dependentes, especialmente as pessoas mais idosas, não se mexem. É uma humilhação ter de estender a mão à caridade quando se têm direitos inerentes à vida humana  que estão, como acima refiro, consignados na nossa Constituição, mas que não estão a ser cumpridos. Estas pessoas são credoras desses direitos que lhes estão a ser negados. Muitos deles “desaparecem” sem se saber porquê e como.
Há poucos dias soube-se de uma senhora que foi encontrada morta em casa, ressequida pelo tempo, pois pelas contas de uma vizinha deve ter falecido há nove anos sem que “ninguém se incomodasse”, pois toda a ajuda que essa vizinha pediu para saber o que se passava, foi-lhe negada. Só foi encontrada quando passou à situação de “número” por falta de pagamento de impostos.
E… caso “engraçado”: começou “a caça” aos idosos que viviam sozinhos, para disfarçar a realidade e fingir que estava a haver por parte dos responsáveis o cumprimento dos seus deveres.
E os culpados disso, importam-se com o que se está a passar??   NÃO.
Será de aplicar o ditado “Não peças a quem pediu e não sirvas a quem serviu”??
No caso de alguns, até talvez seja certo aplicá-lo. Não se pode, evidentemente generalizar, porque há muito boa gente – as excepções à regra - que “subiu a pulso” - como soi dizer-se – e que é gente que não esquece as origens e procura ajudar aqueles de onde veio.

Passou a ser voz comum dizer “que o mundo mudou” e que a nossa vida não pode ser “a de uma pessoa acomodada com emprego para toda a vida”. Mas os que tiveram o tal “emprego para toda a vida” e que a partir de uma certa altura passaram a ter direito a uma pensão,  porque para isso fizeram os seus descontos, são os que agora ainda estão – sabe-se lá até quando os governantes lhe garantirão essa pensão???!!! - a aguentar muitos dos “passageiros deste barco à deriva” que não têm direitos a coisa nenhuma, pois não encontram trabalho/emprego para se sustentar, não têm hipótese de formar uma família, para sair de casa dos pais, - alguns já na casa dos trinta anos para cima – e que será destes jovens adultos e dos adultos que estão desempregados e com filhos, que não vêem trabalho nem futuro, andam de curso em curso das Novas Oportunidades – elas é que não aparecem!!! – quando não tiverem mais quem os ajude, quando não tiverem saúde ou quando já forem idosos e não tiverem descontado para uma reforma que lhes possa garantir uma velhice com, pelo menos, um pão por dia para enganar a fome? Voltarão a “subir ao monte” acompanhados de uma manta para se embrulharem, levados pelos filhos, à espera da morte, como nos relata a Bíblia?
Depois de um século XX, tão rico em descobertas científicas, em descobertas tecnológicas, em grandes passos dados que – parecia… - poderiam contribuir para o bem-estar das comunidades, em especial das do mundo ocidental, e que com “cabeça” tinham obrigação de ser estendidas a muitos outros povos mais “atrasados”, embora ricos em matérias primas, dá-se o “boom” de que “o mundo mudou” e verifica-se que aqueles que apregoam que o “mundo mudou” estão cada vez mais ricos, e os que se estavam orientando na vida com o “objectivo” de atingir uma igualização de oportunidades e de nível de vida, vêem-se de um momento para o outro, e sem o esperarem nem o imaginarem sequer, no vazio, no zero, sem nada, sem “objectivo”, a planar no vácuo de uma vida derretida, desfeita, sem serem capazes de pensar, de raciocinar, de darem a volta por cima e… pasme-se! há quem se “espante” com o aumento súbito do consumo de anti-depressivos. Será que não se consegue perceber que uma família, que, de repente, fica sem emprego, com uma casa para acabar de pagar  - e um senhor lá na UE (ou onde quer que é) a brincar com as taxas de juro que ora baixa, ora levanta - com filhos a estudar – até porque estudar/ou andar, pelo menos, na escola, de livros debaixo do braço, é obrigatório – e a ter que os alimentar, vestir, calçar, etc., entra imediatamente “em parafuso” com uma situação destas?
Mas que estou eu para aqui a dizer?!!! Não estarei eu farta de saber que “neste País à beira-mar plantado” só se sabe bem como são as coisas quando se passa por elas? Pois, assim, é normalíssimo, que quem não passar pelas situações, não pode perceber porque é que isto ou aquilo acontece! Mas, pelo menos, temos que ter a intuição necessária para nos imaginarmos/metermos, por uns segundos, na “pele” dessas pessoas para as podermos compreender e não nos admirarmos dos resultados subsequentes!!!!

Valha-nos, por favor, quem tem a responsabilidade perante o que está a acontecer!
E que dê um modo de vida digna a todos aqueles que dele carecem, o reponha àqueles que por ele já estavam lutando e não prejudique mais os que estão tentando aguentar-se!


Rosa dos Ventos

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